sábado, 29 de agosto de 2015

O sangue me lembra da mulher que não sou.
Todo ciclo o tempo passa escorrendo por meu ventre.
Cada mês me recordo das possibilidades alegres.
Ao fim, elas são devaneios de mulher.
E nessa bobeira onírica estou só a tecer delírios de viver.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os cabelos multicor da cidade grande

Nesses cabelos azuis, lilás, amarelos, vermelhos, rosa não sei como me encontrar. Ao mesmo tempo numa cidade grande pode-se ser tudo o que sempre se quis ser, sintetizado, sintético e imitado. Tudo é ao mesmo tempo autêntico, tendência e mais do mesmo. Andando por suas ruas, mesclam-se vontades e sonhos que parecem não estar em revistas nenhuma mas se repetem e se compartilham por WatsApp. Geralmente gosto das cores. Geralmente meu mundo costumava ser domado por elas. Cores que não se combinam. Mas são cores de terra. Olho para esses cabelos multicor e para mim é uma prova de como estou rígida e retrógrada nessa sociedade do espelho. Há um estranhamento e ao mesmo tempo um entendimento nesse sabor que sinto de mim. O seu cabelo multicor é a afirmação da minha matutice. Nunca chegarei a ter um cabelo como seu, colorido. Aparentemente o que vocês das cabeças coloridas querem passar é a ideia de que suas mentes também são coloridas. Mas o que vocês fariam no dia-a-dia do amor? O que vocês fariam no dia-a-dia miserável dos que se levantam sem ter o que comer? Será que a sua vida é como a da matuta que lhes escreve? Será que há cores suficientes para colorir tanta realidade? Essas cores poderiam me mostrar afirmação de identidade, diversidade, rebeldia, juventude...mas o que consigo ver não se assemelha a isso. O que consigo ver é o jovem colorido pelo azul do Facebook e a cabeça se perdendo na sociedade do espetáculo de 500 caracteres.