terça-feira, 17 de novembro de 2015

Poderia construir um jardim de minha vida. Só que desse jardim brotariam palavras e sentimentos. Como as plantas, eles teriam que ser muito bem cuidados. De vez em quando seria necessário arrancar uma Babos(eir)a inteira do canteiro. Mas com muito cuidado. Aprendi que a babosa tem raízes fortes que levam consigo muita terra. É preciso ir com jeito. Tombar um pouco ali, um pouco aqui. Com muito carinho pra não fazer um grande buraco e levar outras plantas junto. Hoje consegui tirar a babosa de meu canteiro, mas que baboseira seria ela? Acho que ela ainda não é o ciúmes, nem a desconfiança, nem a insegurança. Não é a tristeza, a melancolia, nem a depressão. Acho que o que consegui arrancar, a custo de alguns arranhões, foi a raiva. Ontem enquanto discutia com o Vinícius, a princípio, sentia raiva. Depois a única raiva presente e escandalosa foi a dele. A minha foi ficando miúda, humilde. Tombou daqui, tombou dacolá. Mas não vá achando que ela foi embora inteira. Como disse, a babosa tem raízes fortes que se embrenham pela terra. Se você olhar o meu canteiro verá alguns tocos de suas raízes. Será que com a próxima chuva ela renasce desses tocos? O buraco que el deixou tentei disfarçar com os cachos das folhas de orégano que há muito se comprimiram entre  o alecrim. Que sentimento poderia ser o orégano? Acho que ele poderia representar bem a gentileza. É a ela que acabo recorrendo sempre quando a raiva deixa marcas. Ela geralmente ajuda, é fato. É ela que é sentida primeiro e é  gosto dela que prevalece, como numa pizza. Por isso o orégano e o alecrim se dão tão bem no meu canteiro. A gentileza é uma porta para a alegria, um pulo para ela. Quando nada fica além de um grande buraco de raiva, a gentileza ajuda a chegar na alegria.

domingo, 8 de novembro de 2015

Coração de ferro
Sangue de lama tóxica.
Há muito Minas sangra
Desde o seu descobrimento
foi saqueada, 
seus índios mortos,
seus rios sujos, sua mata desbravada.
Para a gente que lá foi
também não teve descanso
chicote, senzala,
com um discursinho manso.
O mesmo discurso que ainda enche
o coração do brasileiro:
"Minas é rica! Minas nos dá dinheiro!"
A preço de que?
A que custo?
Seus trabalhadores lotam o ônibus
Todos os dias, todos os minutos dos dias
Como formigas vão tirando de um monte
e pondo o resto no outro.
Mas o que fica pra essas gentes
é só o do outro resto...
Esse tóxico, que se rompe
leva casa, leva quintal, leva bicho,
leva mata e leva gente.
A custa de que ainda deixamos esse
discurso manso nos saquear?
Leva nosso tempo, leva nosso lazer,
leva nossas vidas e matas...
Minas, seu coração é de ferro
Mas seu sangue escorre e é de lama.

domingo, 1 de novembro de 2015

A ressaca dos dias. Aquela sensação desidratada. Aquele rompante de palavras que não podiam ter sido suas! Ao mesmo tempo aquele alívio de ser tomado ferramenta para despejar-se sobre o mundo. Quanto peso nos ombros! Somos tão frágeis. E insistimos em bancar o bamba. Aquele nó desatado, aquela revelação de que nada voltará a ser como antes depois desse momento crucial. Choro, lágrimas, humilhação momentânea: nada importa. O "daqui pra frente" se abre com uma possibilidade de inicial gosto amargo, depois vem o gosto que quiseres dar. Todos temos problemas. Todos choramos na noite escura quando nos damos conta de nossa finitude, solidão ou pequenice. Todos amamos, todos odiamos. Cada um a sua maneira bela e crua de ser. Que sejamos mais crús, com mais ressacas. Mas que elas não nos afundem na nossa própria areia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Anos atrás, você tinha razão: uma árvore sobre a outra dá sombra.
Sinto-me na sombra.
Foi uma sombra dissimulada, me pegando aos poucos, entre escolha e entrega.
Mas é sombra.
E agora para transplantar esse eu-planta só com boas mãos de jardineiro!
Está na hora de sair da sua sombra.
Cantinho que escolhi pra mim, teve terra, água-lágrimas, risos-minerais.
Agora chega!
Quero meu próprio campo!
Quero minhas joaninhas e pulgões. Quero minhas raízes e minhas próprias folhas para podar.
Por que fui me tocar disso só agora?!
OU talvez agora tenha dado o nome aos bois.
Mas é sombra.
Vivo a vida de outra árvore. E acabo por virar praga senão me transplantar.
Agora devo me regar, devo afofar minha nova terra, tirar as folhas secas e florescer.
Já tá mais que na hora do sol aparecer.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

de junho

Meus olhos se fecham. Tudo em mim me parece velho, antigo e conservador. Sou eu mesma a opressão. Sou eu mesma oprimida. Ninguém está disposto a ir a fundo no amor, deveras. E ele vai ser para sempre uma criança. Não amadurece, não envelhece. Amor não perde a virgindade sequer. Quando perde vira problema de família, caos e desânimo. Queria eu estar feliz. Mas não me engano. Não estou feliz. Vivo num mundo construído, um mundo de ilusão. Queria muito acreditar que duas pessoas bastam e só essas duas pessoas influenciam esse mundo. Não é assim. E quando não estamos dispostos a ir a fundo nesse mundo, alguém ou os dois saem machucados. É preciso sair de alguma forma, alguma hora. Já tinha ouvido falar que só amar não basta e parece que é verdade. Só o amor não constrói a alegria do dia a dia. Mesmo que amor envolva confiança, lealdade e comprometimento para mim. Mas o gostar ou o querer estar com o outro não basta. Não é suficiente. Pode provar algumas coisas, mas não prova tudo. Amor parece ter data de validade e não dá para pedir para trocar o produto quando vencido. Mais do mesmo não dá. Pra que tudo recomece é preciso reconhecer o fim. Pode ser com a mesma pessoa, se ela quiser. Se ela não quiser, talvez seja um sinal que a vida continua para terminar com um grande e absurdo: "Fazer o que?".


cara amiga, essa carta não é para ser entregue. assim como não deveria ter sido entregue tanto sentimento ruim. não te quero mal, nem bem. você não cheira, nem fede. mas insisto em te conectar a mim. de certa forma estamos? talvez. não nos conhecemos, nem tenho a pretensão de. tempos atrás talvez para me provar, para ultrapassar meus limites iria querer até te convidar pra um chá. mas os anos nos fazem apenas um bem: nos conhecermos melhor. beijarmos nossos limites e quem sabe sermos mais seguros de nós mesmos? nesse caso, meu limite é esse. de ti, nada, para ti, menos ainda. começamos mal, minha cara. eu sei. mas quem continuaste foste tu. à cotoveladas e com tanto exibicionismo: pra que? e o seu feminismo escancarado em páginas de face? e sua modernidade nos cabelos? pra que duas mulheres iriam precisar disputar um mísero homem? não faz sentido e essa roupa eu não visto. não tem meu número e prefiro deixá-la mofar. homens não me abandonam, homens não serão alvo de minha disputa, nem de minha alegria, nem de minha tristeza. pelo menos é isso que procuro trabalhar em mim mesma, mas já te disse, somos limitadas. Então, minha cara, fica na sua, me esqueça. Se puder, esqueça-o também, vá em outra praça, vai te fazer bem. Pois por aqui bem nenhum você gerou. Se alguém gerou bem fomos eu e ele, cada um a si, refletindo um no outro. Não foi o seu acontecimento que abalou geral, sinto em lhe dizer. Não foi a sua existência que fez a minha vida mudar. Vá te catar! Estou dando voltas no sol há muito mais tempo que ti, minha cara. Só eu sei das minhas dores. Só eu sei das minhas alegrias. Não toque na ferida, siga seu caminho. Assim jamais seremos amigas.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Esque(cres)cimentos

Podia escrever mil rimas
Podia escrever mil e um crimes
Podia escrever mil e dois amores
Podia...

Queria fazer mil voltas nessa rua
Queria em  dois mil e tantos ir pra Lua
Queria só ver sua pessoa crua
Queria...

Tenho em mim vinte e sete anos
Um ou dois amores, talvez três
Dois homens pra um gozo
Tenho muito passado em mim
Muita lembrança de criança
Muita gente que despedi de minha vida
Por isso, pouca mágoa.
Pelos motivos, muita.

Queria num piscar de olhos ver passar os anos
Mas sem envelhecer.
Deixar toda essa besteira de lado
Olhar e ver uma alegria a crescer.
Queria...e podia.

A vida não tem muito segredo
Apesar de os que vivem fazerem dela grandes mistérios
e traições
Tá no sangue. O que está no meu? O mesmo. Não sou mais ninguém que alguém.
A vida é:
Acordar, tomar um chá, te ver sorrir e sorrir de volta.
Ler, aprender, escrever, refletir, construir algo.
Andar, suar, sorrir, cantar.
Esquecer, apenas esquecer.

A vida não tem segredo
Mas se esconde à sete chaves

sábado, 29 de agosto de 2015

O sangue me lembra da mulher que não sou.
Todo ciclo o tempo passa escorrendo por meu ventre.
Cada mês me recordo das possibilidades alegres.
Ao fim, elas são devaneios de mulher.
E nessa bobeira onírica estou só a tecer delírios de viver.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os cabelos multicor da cidade grande

Nesses cabelos azuis, lilás, amarelos, vermelhos, rosa não sei como me encontrar. Ao mesmo tempo numa cidade grande pode-se ser tudo o que sempre se quis ser, sintetizado, sintético e imitado. Tudo é ao mesmo tempo autêntico, tendência e mais do mesmo. Andando por suas ruas, mesclam-se vontades e sonhos que parecem não estar em revistas nenhuma mas se repetem e se compartilham por WatsApp. Geralmente gosto das cores. Geralmente meu mundo costumava ser domado por elas. Cores que não se combinam. Mas são cores de terra. Olho para esses cabelos multicor e para mim é uma prova de como estou rígida e retrógrada nessa sociedade do espelho. Há um estranhamento e ao mesmo tempo um entendimento nesse sabor que sinto de mim. O seu cabelo multicor é a afirmação da minha matutice. Nunca chegarei a ter um cabelo como seu, colorido. Aparentemente o que vocês das cabeças coloridas querem passar é a ideia de que suas mentes também são coloridas. Mas o que vocês fariam no dia-a-dia do amor? O que vocês fariam no dia-a-dia miserável dos que se levantam sem ter o que comer? Será que a sua vida é como a da matuta que lhes escreve? Será que há cores suficientes para colorir tanta realidade? Essas cores poderiam me mostrar afirmação de identidade, diversidade, rebeldia, juventude...mas o que consigo ver não se assemelha a isso. O que consigo ver é o jovem colorido pelo azul do Facebook e a cabeça se perdendo na sociedade do espetáculo de 500 caracteres.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Eu te amo?

assim poderia ser um final de uma historia feliz. sim, sou mais da prosa, meu poema não tem rima. meu amor não tem rótulo. mesmo que séculos de machismo o tentem rotular. Mas quem dera desde o inicio isso! Se houvesse o era uma vez Se a vida fosse uma fantasia Eu então te escreveria mais uma vez Eu te amo, te amo, amo. Como eu gosto, como eu posso mas não posso, não devo Não devo nada a ninguém. Nem a seu amor, muito menos a você. Dizem que isso é ser livre ou antipático Mas não posso, não devo Minha cina também não tem rima Minha alma não tem gêmea, minha laranja não tem metade Quem tem? Quem deve? Quem pode? Ser revolucionário em nada me cabe Estar presente no momento ausente Acreditar em deus e ser ateu O que foi que me deu? Onde esqueci o pouco do todo Que me mantinha nessa sua monotomia Mas hoje é o dia do não devo nada a ninguém Então, não pingo meus ís Só hoje. Depois volto manso pro seu lençol depois me canso de tanto amor Depois conto um, dois, três "era uma vez" e fechamos felizes nossa história mas hoje, hoje o que fica de mais puro é "Te amo?" não sei O que dizer.

Joana

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Passo a passo não te sinto. Tique e taque passou. Passo a passo teu sorriso. Tique e taque se virou. Passo a passo não me procuras. Tique e taque estancou. Passo a passo me perco. Tique e taque enlouqueço. Passo a passo não sabes. Tique e taque eu só sei. Passo a passo vai longe. Tique e taque do coração. Passo a passo me mando. Tique e taque tique e taque tique e taq...

quinta-feira, 4 de junho de 2015

A alegria que procuro, a paz e a tranquilidade que são necessárias para viver meu dia a dia, só eu que vou me dar. a alegria não está em outra pessoa, pronta para que eu acesse. A minha angústia não vai terminar com uma relação. Apesar de vivermos em relações e elas serem muito importantes para nossa felicidade, não são elas que nos fazem entender o que levamos dentro da gente e o que fazer com o que levamos dentro da gente. Esse sentimento todo quem vai ter que aprender a lidar sou eu, sozinha. A solitude que disse antes entrou em cheio no meu peito. Agora é momento de rever quem sou, o que quero, com quem estou, para onde vou, para onde vamos. A vida é cheia das coisas banais. Mas são essas banalidades que nos sacodem, que fazem nosso chão. Preciso neste momento reaprender quem sou, reaprender a sorrir por conta própria. De nada adianta todas as conversas do mundo se não conversarmos francamente com nós mesmos. Conversa franca, mas delicada. Preciso ser mais delicada comigo e com os outros.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Solitude

Nestas horas de puro pico hormonal, ela vem. Ela vem e impregna todo o ambiente. Não é todo mês. Não é sempre com a mesma roupa. Mas vem. A solitude. Nesses momentos é bom se preparar. Vestir uma roupa confortável. Fazer um bolo, caso ela esteja faminta. Deixar a casa limpinha. No fundo, é sempre bom recebê-la. Dá pra tirar o pó, os cachos podem ser aparados. Mas principalmente são os pensamentos que mudam. Com a solitude fica tudo um pouco confuso. Mas não é culpa dela. Nesse momento você quer de tudo. Quer a atenção do companheiro, quer escrever tudo que já pensou sobre o assunto, quer ver uma aula sobre o Bourdieu pela internet e com duração de 3 horas, achando que você vai ter saco, quer ouvir uma nova banda...E por aí vai. Ela te desfoca. Mas no fim, nesse turbilhão todo, fica alguma coisa. Algum sabor novo. Bem-vinda!

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Bem que podia chover.
Essa gota de suor podia ser lavada. Ela se insinua demais por aí. A cada movimento, uma nova gota. Com ela, todo um cheiro.
O calor é algo sensual. atmosfera quente ordinariamente compartilhada numa praia, numa sala, num ônibus lotado. Todos naquele mesmo ritmo ofegante. Gotas circundando lábios, tropeçando em narizes, deslizando sobre pescoços e correndo até ficarem perdidas em seios, costas, nádegas. Há também as que gostam de inovar e tentar seduzir os joelhos. Num dia quente do verão brasileiro todos parecemos estar numa orgia. Mas não nos deixamos contagiar por ela e maldizemos esse termômetro e toda a sensação térmica que não quer jamais nunca nos refrescar.
"Sou chuva lavando o sertão!"
Nesse calor, assim, há sempre a gota de chuva a espreita. Hoje em dia menos. São tempos difíceis. Mas dá pra sentir ela se insinuando nesse vento na nuca.
As gotas- de suor e de chuva- se encontram, se seduzem e se misturam pra terminar com esse grande gozo que é o verão no Brasil.