quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Faz bem pra pele

Se encontraram  num lugar que nem iam imaginar, apesar de se ouvir falar que esses encontros acontecem, ela disse ao longe. Os dois se notaram no lugar. Ele puxou conversa.Ela respondeu cordialmente, como faz sempre. O papo era bom e de repente ela se percebeu paquerando, como há tempos não fazia. Aliás, como quase nunca fizera. Vive a dois- o pensamento veio. Mas não incluiu o par em nenhuma referência, mesmo ele já estar incluído na delicada aliança em seu dedo. Talvez o outro fosse distraído e não percebeu, talvez tenha percebido, mas não se importou. Talvez. Nesse dia não pôde dormir direito. Algo estranho acontecia. Se apaixonava mesmo sendo casada? Como pode isso? No outro dia, acordou sorrindo. Se sentiu mais magra, seus cabelos pareciam mais brilhantes e macios. Como pode essa pele ter ficado menos oleosa assim da noite pro dia? Foi trabalhar. Esqueceu daquilo tudo. Mas sentia que vários homens a olharam interessados nela como mulher naquele dia e não mais como a chefe do departamento. Que estranho! O que há de diferente comigo?-pensou. Deve ser esta camisa caqui e este batom. Esses homens! Uma semana depois voltou despretensiosamente àquele lugar com o marido. Nem se lembrou daquela paquera. E não é que ele estava lá? Pôde perceber a surpresa e a frustração nos olhos dele ao vê-la entrar acompanhada e sorrindo com seu vestido e os cabelos soltos. Ela também não soube se encaixar mais naquele vestido. Mas, o que está acontecendo comigo? Ele saiu, não se falaram. Ela percebera tudo: se apaixonara por um desconhecido. É natural. Acontece. Não é nada. Devo me controlar. Também não devo encontrá-lo mais, consolava-se. Dias depois em outro lugar se encontra com aquele olhar que conhecera. Os olhos se sorriram. O abraço veio. A conversa foi. O vestido, o cabelo, a pele, todos juntos naquele ser desabrochando para a vida. Não se culpe, disse ele. Não foi nada premeditado, é só um beijo. O que é um beijo afinal? Ela pensava. Não é nada. Nada? Não poderia ser apenas nada. Um beijo é muito. Se sentia vaidosa ao escutar aquele homem desejando-lhe. Não imaginava mais isso. Era adolescente mais uma vez. Borboletas no estômago e todos os homens na rua tinham a cor de seus cabelos. Mas não era ele. A culpa cresce. Como dizer ao marido: foi apenas um beijo? O que ele vai sentir? O que ele vai fazer? Arriscado demais isso tudo. Mas como foi bom se sentir assim outra vez. Como pode se sentir culpada em fazer-se bem? Como pode se sentir bem fazendo apenas se sentir bem? Não tá certo. Não tá nada certo. Não quer machucar ninguém, mas também não quer se machucar. Desejo demais reprimido não pode sustentar uma vida de verdade. Aquela boca lhe convidara para algo mais, ela repelia. Aqueles olhos a viam como mulher. Como mulher, não como menina! As mãos se compreendiam. E fora apenas um beijo! Ah, doce mulher, quando é que o mundo vai se abrir e te deixar sair desse vestido de menina? "O que você fez com sua pele? Ela está linda?" Ah....amar faz bem pra pele, disse, pensativa.

sábado, 16 de agosto de 2014

Dançar a vida

A vida é feita pra dançar. Não sabia? Há tantas mulheres por aí que se vem assim, floridas, vivas. E tantos homens também. Meu ângulo é feminino. Quem sabe não juntamos os vários ângulos possíveis pra fazer esse relato? Mas deixa eu dançar.Tenho aprendido a me deixar ser mais leve, a ir com os passos escorregando, pra não machucar demais o joelho. O escorregar é com tudo. A gente pode ir mais devagar, rasteirinho, pra ir junto, pra estar presente. Há tantas mulheres nessa vida que estão sós, estando acompanhadas. Essas margaridas que vão perdendo a cor da vida. Não tem porque se deixar despetalar. Não tem porque se deixar podar. A não ser que seja uma poda pra se fazer crescer, fortalecer. Na vida a gente tem que dançar. Deixar pra lá tanta parafernália que fomos criando com o tempo humano. Voltar às raízes. Já dizem muitos. Já disse Thoreau, Wilthman e Manoel de Barros. Os homens são por mim também citados. Voltemos às nossas raízes. Nos comuniquemos mais. Sejamos conscientes de nossos vícios, de nossos erros, de nossas limitações, tiremos todas elas pra dançar. Façamos um grande baile, com muita alegria! Deixemos nos encontrar com outros pares se nossa alegria junto não cresce. Sejamos soltos, sejamos flor, folha e fruto. Bailemos a música magnífica do existir e mais nada. Cada coisinha que fazemos, coisinha humana, acrescentemos à nossa sabedoria universal de ser vivo. Mas não nos deixemos enganar. Somos ser vivo. Ser humano é distrativo. E mais nada. A gente gosta mesmo e se satisfaz é com o básico. É com a raiz. É dançar, sentir o outro, comer, sentir o vento, andar, comunicar, sonhar... coisas raiz. Isso não passa. E o básico é direito. O básico é luta. O resto, deixa ir. O resto é resto e te complementa. O que você é mesmo é o que faz com sua raiz e como a faz. Viva as margaridas e os homens folha! Dancemos!